domingo, 8 de agosto de 2010

Primeira e última

Querido desconhecido,

Que direito pensas ter ao me tratar por terceira pessoa? Qual é a tua coragem de me conjugar no passado, quando tua falta ainda se faz presente? O que teria por trás das reclamações se não as mais doídas lamentações que teimam em esconder nada além de ti?
Torturo-me com o tamanho desejo de que escutes à minha porta o estrago que teu bater de portas pariu; por que não sussurras no ouvido da fechadura que não me queres mais? Poderias vir assistir (ao) meu pranto, rir de meu escândalo, de meu prometer nunca mais voltar. Ou cuspir meu seio adentro tua fria saliva que ainda instiga o meu sonhar.
Que mal tem nisso, se a palavra é tua, ainda sim que crua, e não me deixa falar? Não me deixa procurar a cura; olho-te na rua e peço que te molhe no choro ainda a me engasgar.
Tuaflição.

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