domingo, 8 de agosto de 2010

Quatro da manhã

Minha doce aflição,

Ao abrir as suas pálpebras, talvez você não me veja mais da mesma maneira, nem da mesma forma. Não que eu esteja diferente. Não que eu tenha crescido. Não que eu tenha envelhecido. Não que eu tenha mudado. As coisas é que estão diferentes. As coisas é que estão crescendo. As coisas é que estão envelhecendo. As coisas é que estão mudando. E nessas mudanças, parece ter nascido um espaço entre nós. Um espaço invisível, sem borda, sem contorno, sem limites. Um espaço ainda vazio. Um espaço que, como todo espaço vazio, aguarda ser preenchido. Eu me sinto, às vezes, como esse espaço vazio. Será que você está pronta para me preencher? Por favor, não responda. Não quero exatamente palavras ou falas. Quero gestos. Será que você está pronta para me preencher?

Pode me preencher de dúvidas, ofensas, palavras curtas. Pode me preencher de medo, de café, de cigarro, de delírio. Pode me preencher de aflição, de cinzas, de drogas. Pode me preencher de álcool, de conflito, de remédio, de nada. Mas não me deixe vazio, não me deixe vazio, não me deixe vazio, não me deixe.

Seu desconhecido

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